A uma hora do início do clássico, roqueiros entoavam o hino do São Paulo para arquibancadas semivazias e as pessoas se olhavam no Morumbi como se perguntassem: “estamos celebrando o quê?”. Ninguém confiava na equipe. Havia um temor de que aquele show inoportuno apenas se transformasse em razão de chacota ainda maior depois da decantada vitória do Corinthians.
“É hoje!”, gritou um torcedor empolgado diante da transpiração das camisas tricolores. O São Paulo suou. Sujou o calção e ajudou a limpar sua dignidade, manchada por atuações recentes vergonhosas. Deixou para trás o tom blasé de quem jogava futebol como se estivesse tomando um chá das cinco com a rainha da Inglaterra e redimiu-se contra o maior rival numa partida que deve servir de guia se a equipe tiver ambições à altura de sua tradição em 2015.
A noite em que o São Paulo se redescobriu teve em um de seus ícones a demonstração mais pura de que, sim, ali naquelas veias corre sangue. Luis Fabiano foi puro Luis Fabiano em seu fabuloso destino de caminhar na linha tênue entre o heroísmo e a vilania. No temperamento inexplicável do artilheiro, há espaço para o herói e o vilão. Eles parecem se amar.
Quanto mais Luis reclama, mais ele joga. Quando mais esbraveja, mais bolas consegue dominar. Quanto mais raiva exibe em sua expressão facial, maior a chance de fazer gols como fez ainda no primeiro tempo. Parou na esquina. Deu mole. Viu o árbitro lhe dar dois cartões amarelos na etapa final com a mesma velocidade que ele já esbanjou em tempos de juventude por aquele gramado do Morumbi. Mais um gol, mais um cartão vermelho. É o “pacote fabuloso”. Os aplausos durante sua caminhada até o vestiário são autoexplicativos. O gol foi maior.
Grande a ponto de deixar o Corinthians sem saber o que fazer. Era bola pra lá, bola pra cá, e já com 2 a 0 no placar, o torcedor gritava: “Vamos pra cima deles!”. É como se o menininho do prédio finalmente tivesse crescido e pudesse encarar o vizinho mais velho na bola, no olhar, na imposição. O menino virou homem e se portou como tal.
Os jogadores tiveram, sim, vontade de fazer com que cada torcedor saísse do Morumbi orgulhoso e representado, que ao se olharem no espelho enxergassem o rosto dos que estavam em campo, e que dormissem com a camisa do São Paulo sem querer acordar tão cedo.
O Corinthians ainda é melhor, mais bem preparado. É inegável. Mas o São Paulo provou a si mesmo que a grandeza não está apenas nas estrelas de sua camisa. Aqueles que a vestem também precisam ser grandes. Dessa vez foram.
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