quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Opinião: Pato foi o melhor, mas Michel Bastos abriu as avenidas da goleada


Michel Bastos São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)
Artilheiro da noite e autor de belos lances, Alexandre Pato foi o principal nome da goleada do São Paulo, que fez quatro gols em jogadas de seus laterais. Mas, sem Michel Bastos, provavelmente a missão tricolor contra o Danúbio teria sido mais difícil no Morumbi. Escalado no meio-campo, onde rende mais, ao contrário do erro no clássico da semana anterior, o jogador teve movimentação fundamental para abrir os caminhos dos laterais (veja os gols e alguns dos melhores momentos da goleada no vídeo acima).
Parece até que o destino quis lembrar a Muricy Ramalho a decisão errada da estreia, na derrota por 2 a 0 para o Corinthians. Reinaldo, barrado na arena do rival, deu uma assistência depois de lindo drible, e ainda fez um gol. Por acaso? Não. Dessa vez, a estratégia do técnico deu certo. Michel Bastos e Ganso atuaram abertos para criarem espaços na retranca uruguaia – que não era tão eficiente assim. Os três primeiros gols saíram sempre do lado em que estava o camisa 7. Ele foi o responsável por atrair a marcação e abrir corredores para Bruno e Reinaldo deitarem e rolarem.
O primeiro gol já nasce bonito em sua origem, o toque de classe de Michel para Reinaldo. Peña, lateral-direito do Danúbio, tentou se antecipar ao meia são-paulino, que foi mais rápido. No espaço deixado pelo defensor, Reinaldo avançou. A movimentação de Michel desmontou o sistema de marcação. O zagueiro que saiu na cobertura foi driblado e Pato ficou livre na área.
Aos 38 minutos do primeiro tempo, com dificuldades de abrir a zaga do Danubio, o São Paulo inverteu seus armadores. Ganso foi para a esquerda e Michel para a direita, onde, menos de três minutos depois, recuou até a linha do círculo central, chamou atenção de Sosa e Gonzalez, e deixou uma avenida aberta para Bruno. Reparem no vídeo a desolação de Luis Sosa quando repara que correu em Michel e vê a enfiada de bola de Souza para Bruno, livre, livre. Sem marcação, ficou fácil para o lateral-direito cruzar na cabeça de Pato: 2 a 0.
No segundo tempo, Michel e Ganso voltaram ao posicionamento original e o São Paulo, se não chegou a passar maus bocados por conta da fragilidade do adversário, foi dominado por alguns minutos, sem a menor condição de criar. Até que, de novo, Michel Bastos fechou da lateral para o meio, fez os uruguaios concentrarem toda a marcação no setor, e conseguiu dar um tapa de lado para Reinaldo. Com o caminho totalmente aberto, ele chutou e definiu o jogo.
Atribuir o quarto gol à movimentação do jogador seria apelar. A partida já estava em ritmo de pelada, o Tricolor com um a mais em campo, mas o fato é que, novamente, um lateral participou. Hudson, improvisado no setor, chutou em cima de Cafu, que aproveitou e marcou.
Se Muricy Ramalho optou por abrir seus jogadores de criação e todos os gols saíram pelas laterais, não há como deixar de enaltecer sua decisão. Só que nem a tática, tampouco seu êxito, significam que os problemas do São Paulo estão resolvidos. O futebol do time foi apenas "razoável", como frisou o capitão Rogério Ceni. 
O próximo desafio do treinador é aproximar Michel Bastos e Ganso. Eles são os principais armadores da equipe e, na última quarta, ficaram muito distantes. Um na esquerda, outro na direita. Deu certo, mas pode ser ainda melhor se os dois, inspirados, puderem trocar passes e envolver também pelo meio. Depende de treino e da presença de atacantes de movimentação, como Pato, que arrebentou.
Obs.: fora de campo, a diretoria do São Paulo foi tão mal quanto o time jogou o clássico. Criou, em cima da hora, disparidades nos preços dos ingressos para "obrigar" o torcedor a se associar, apresentou um sistema de vendas cheio de problemas e, para completar, ignorou o aniversário do bicampeonato brasileiro no mesmo dia em que Pepe, técnico daquele time, completou 80 anos. Na verdade, fez uma lembrança mequetrefe no placar eletrônico e na distribuição de uma folha de papel. Essas datas aliadas ao primeiro jogo em casa na Libertadores, com venda de ingressos eficiente e homenagens à altura, poderiam ter formado uma grande festa no Morumbi. A sequência de trapalhadas deixou um clima de frustração nas arquibancadas.

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