terça-feira, 21 de outubro de 2014

Uma estratégia que distancia o torcedor


Imagem: Daniel Perrone
A foto ao lado foi feita na arquibancada azul durante o intervalo do jogo São Paulo x Bahia e mostra a divisão da arquibancada azul com a arquibancada amarela, localizada atrás do gol do portão principal do estádio.

Dá para notar claramente o contraste entre a lotação de um setor e a melancolia do outro. A diretoria do clube vem adotando uma estratégia que ao meu ver é pouco inteligente: fechar a compra das arquibancadas vermelha e amarela e disponibilizar apenas as arquibancadas laranja e azul, com preços reajustados. Isso é, meio estádio cheio (ou meio vazio, se você preferir) nos últimos jogos.

O clube disse que essa foi a solução encontrada para resolver problemas de logística. Como a procura pelas arquibancadas não tem sido grande, o Tricolor vem abrindo setores conforme o volume de procura de ingressos. A medida encontrada também evita o uso de contingente desnecessário e consequentemente mais despesas.

Até aí vale a justificativa, mas o erro é que clube fechou exatamente o Setor Família, prejudicando uma parcela muito significativa da torcida. Não foram apenas os menos endinheirados que sofreram com a medida. Quem é Sócio Torcedor mas costumava levar a família no lado das arquibancadas amarelas mas fazia questão de manter seu título agora não tem mais como ir aos jogos. Veja um exemplo de uma família com um Sócio Torcedor (marido), a esposa e dois filhos que são torcedores comuns. Com o setor família eles gastariam R$ 40,00 para irem juntos no estádio e o marido eventualmente poderia ir a algum jogo sem a família utilizando seu cartão de sócio. Hoje em dia ele gastaria R$ 160,00 para ir a um jogo com a família. Inviável.

O Setor Família foi uma árdua conquista do torcedor são-paulino que atualmente está depreciada pela diretoria do clube. Sem o setor muitos eventuais torcedores que vão em um ou dois jogos pela limitação financeira, ficam de fora sem poder apoiar o time no estádio. Perdeu-se o torcedor natural, festivo, que quer participar mas está a margem do estádio. E o estádio de futebol, para mim, tem que ser palco sobretudo do torcedor popular.

Gostei do início da administração Aidar. Nosso presidente deu ao torcedor um elenco competitivo e tenta mudar a gestão para um modo mais profissional, como exige a atualidade. Mas ele tem que rever essa estratégia que afugenta uma parcela importante da torcida. Vou dar mais um exemplo: no jogo de sábado, se a amarela a R$ 10,00 estivesse aberta, certamente teríamos ao menos mais cinco mil presentes, aumentando a média de público de 22 mil para 27 mil, aumentando o consumo interno do estádio e melhorando a percepção de possíveis patrocinadores. Isso sem contar com o apoio maior nas arquibancadas, algo que faz muita diferença no equilibrado campeonato.

No sábado passado a arquibancada azul ficou no limite da lotação máxima e o torcedor teve dificuldades na entrada e saída da rampa de acesso, que no caso do Morumbi é limitada. Os fanáticos não reclamam mas aquele torcedor que está querendo acompanhar o clube, influenciado pela Copa do Mundo ou para levar seu filho pequeno, certamente pensará mil vezes antes para comparecer novamente. A gente que vai sempre ao estádio presencia inúmeros casos de desconforto que quem está atrás da mesa de escritório muitas vezes não vê.

É claro que precisamos aumentar as receitas e promover o Sócio Torcedor, mas ao mesmo tempo temos que dar oportunidade aos torcedores menos abonados a se entreterem com o clube de coração no estádio. Isso é fidelizar o torcedor, criar hábito de presença no campo e cultivar a paixão de novas gerações. É dar atributos valiosos de presença de torcida para lucrar com o que realmente interessa: patrocinadores interessados em aliar a imagem de suas marcas ao clube.

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